LGBTQIA+ nas telas: representatividade ainda é desafio nas novelas brasileiras





Félix e Niko  -  (crédito: Reprodução / Globo)

Félix e Niko – (crédito: Reprodução / Globo)

Muitas vezes, novelas, filmes, reality shows e séries reproduzem estereótipos de pessoas LGBTQIA+ com percepções negativas e finais trágicos aos personagens. No Brasil, uma novela da maior emissora do país só exibiu um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo em janeiro de 2014. 

Coordenadora de comunicação do Museu da Diversidade Sexual (SP), Beatriz Oliveira argumenta que a representatividade em projetos que não são especificamente feitos para o público LGBTQIA+ é precária – e quando existe um personagem, a demonstração de afeto é podada. 

Como produções audiovisuais são um recorte da sociedade, Beatriz ressalta que todas as pessoas existentes devem ser retratadas: “No entanto, o grande desafio é dar profundidade a essas histórias sem reduzir seus personagens à própria sexualidade, ou mesmo cair em estereótipos e caricaturas mal feitas.”

Embora a especialista note uma evolução da diversidade nas telas brasileiras, ela destaca que a pauta exige um estado de vigilância constante. “As emissoras tiveram um papel central na construção dos estereótipos da comunidade LGBTQIA+ brasileiras, frequentemente colocadas em uma posição de chacota. As personalidades conquistaram o público que conseguia “relevar” a sexualidade em troca do humor”, enfatiza. 

Mesmo com críticas, Beatriz ressalta a importância dos espaços midiáticos na normalização de identidades divergentes da norma. A humanização da comunidade promove o reconhecimento nas histórias na tela, o que, para Beatriz, resulta na reflexão da aceitação. “Ocupamos espaços, trabalhamos, amamos, sofremos, somos bons e somos maus assim como qualquer outra pessoa”, completa.

A partir da exposição gratuita Pajubá: a hora e a vez do close, o Museu preserva a memória LGBTQIA+, sistematicamente apagada ao longo da história. O resgate desde a colonização do país até os dias atuais celebra a vida e trajetória de pessoas da comunidade não retratadas nos livros de história. 

A aposentadoria da atuação de Maria Clara Spinelli, primeira protagonista trans em uma novela da Globo, reflete a oportunidade de representatividade na mídia, mas a não continuidade dessa carreira em papéis fora do estereótipo. “Ser desprezada é pior do que ser odiada. Hoje, aposenta-se uma atriz-trans. Hoje, morre uma mulher-trans”, declarou Maria nas redes sociais. 

Confira personagens LGBTQIA+ conhecidos no Brasil e como tiveram as histórias abordadas:

Laís e Cecília (Vale Tudo – 1988)

A história de Laís e Cecília foi prejudicada por conta da censura à novela. Na trama, o casal estava junto a mais de uma década e eram donas de uma pousada, até que Cecília morre em um acidente, e o irmão trava uma disputa judicial para não reconhecer a união afetiva das duas, tentando impedir que Laís herde a pousada. Durante os capítulos, outros personagens se referem ao relacionamento de Laís e Cecília como “uma grande amizade” ou “uma união muito forte”. 

Rafaela e Leila (Torre de Babel – 1998)

O relacionamento entre Rafaela e Leila foi uma das primeiras representações de um casal lésbico em uma novela brasileira de horário nobre. A trama abordou os desafios enfrentados pelo casal devido à homofobia e preconceito social. Apesar do espaço dado às personagens, o tratamento da história foi controverso e polêmico na época, principalmente pelo fim dado às personagens, que morrem juntas queimadas na explosão de um shopping.

Rafaela e Clara (Mulheres Apaixonadas – 2003)

O relacionamento entre Rafaela e Clara na novela foi significativo por retratar um casal lésbico de maneira mais aberta e positiva. Ainda assim, por medo da rejeição do público, o autor evitou qualquer hipótese das personagens terem um beijo.

Crô (Fina Estampa – 2011)

Crô é caracterizado como o mordomo afeminado e leal da vilã Tereza Cristina. Embora popular, era frequentemente utilizado como alívio cômico com traços exagerados e estereotipados de homens gays. Com uma representação superficial, a trama não apresentou desenvolvimento pessoal e relações afetivas, o que reforça clichês negativos e sub-explora as complexidades dos personagens da comunidade.

Félix e Niko (Amor à Vida – 2013)

Esse provavelmente é o casal LGBTQIA+ da teledramaturgia que foi mais bem aceito pelo público brasileiro. Félix é inicialmente o grande vilão da trama, repleto de bordões e retratado como um gay ruim e esnobe, enquanto tentava esconder a orientação sexual da família. Quando conhece Niko, um chefe de cozinha bondoso, simpático e generoso, Félix começa a se transformar aos poucos e se redimir. A relação entre os dois é mostrada de forma muito positiva na história, enfatizando o respeito, amor, carinho e apoio mútuo, emocionando o público e os fazendo até torcer por um beijo, que aconteceu no final da novela.

Renée (Elas por elas – 2023)

A interpretação de Maria Clara Spinelli marca a primeira vez que uma atriz transexual dá vida a um papel principal em uma novela brasileira, exibida na Globoplay. A protagonista reencontra as amigas da adolescência e conta sobre casamento, o sucesso da padaria e a transição de gênero que tanto sonhava desde a juventude. Elas por Elas é um remake da novela de 1982, protagonizada por Maria Helena Dias. 

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Fonte: Correio Brasiliense





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